Eu o abracei de verdade, e foi como antigamente, como quando nascemos. Mas estes são tempos muito distantes que eu já não consigo mais me lembrar de como foi, apenas sei que é o mesmo sentimento. Fomos feitos para sermos amigos, de verdade, amigos. Não consigo me lembrar de nenhum outro sentimento por ele alem desse.
Ao terminarmos o abraço, percebi que todos estavam compartilhando o mesmo momento, foi que me ocorreu que João era aquele mais velho, que se chamava Severo, e seus olhos agora estavam mais profundos que no minuto anterior. De fato ele foi o Primeiro.
Olhei a minha volta, e os reconheci um por um, Luciano e Marina, os irmãos, os Últimos, lembrei de seus verdadeiros nomes, enquanto eles se entreolhavam.
- Quinto, Lúcido; Sexto, Vita. Lembram agora?
- Esperança, a Segunda! Eu lembro de você! E como lembro! - Vita correu para os meus braços, amável como sempre.
- Agora me lembro, lembro de saber quem somos, mas não lembro quem somos. - Disse Lúcido pausadamente com suas mãos sobre o rosto confuso.
E então eu eu novamente passei os olhos sobre eles e vi, me deparei com Roberto, o Quarto, com quem não precisei falar.
- Espero que se lembre de mim, Esperança. Sou eu, Só.
Meu sorriso cresceu e então virei meu rosto para Marcos, que agora eu tinha certeza que era o Terceiro, o meu Terceiro, aquele que foi feito para me completar, mas não lembrava de seu nome, e para meu espanto ele disse:
- Quem realmente são vocês? Eu não consigo me lembrar. - passava a mão em seus cabelos, agora mal cortados, e ainda confuso disse baixo. - Humano. Acho que sempre fui chamado assim.
Embaraçada com meus sentimentos e minhas lembranças, levantei do sofá e me virei para a porta da sala. Tinha uma vidraça fechada que dava para a rua, o dia era como qualquer dia, mas chovia, como todo dia que acontece algo importante. A chuva alguns de nós acreditamos, serve para acontecimentos importantes, e no momento, o tempo havia parado, como no inicio. A chuva não chovia, não molhava e nem caía, mas era assim mais fácil de perceber sem precisar de muitas perguntas que o tempo havia parado.
- Está acontecendo – disse Severo – O tempo resolveu estar ao nosso favor.
- Eu não diria isso. - Só se aproximou da vidraça ao meu lado, tocou em meu ombro e continuou – Diria que há algo mais importante, ou simplesmente, está na hora de cumprirmos nossa missão.
- Mas, e se for, sei lá, uma armadilha? - Eu pensei por alto – Quem fez isso conosco? Será que... - antes que eu terminasse, Lúcido se levantou.
- Não acredito que possa parar o tempo, mas seja o que for que tenha nos sucedido, é provável que não saiba sobre nós nesse momento e, com isso, nós ganhamos tempo.
- Quer dizer que devemos retomar nossas funções? - disse Severo espantado com o rumo da conversa.
- Como desde sempre. Como nunca deveríamos ter parado! - Lúcido incisivo.
- Que assim seja como antes! Vamos acha-lo! - A ultima palavra como sempre, de Severo.
Só, como sempre, saiu primeiro de encontro ao fim da história.
Um comentário:
Não sei porque, mas toda vez que eu penso em gente num cômodo sem saber o que houve, me lembro de gantz! hahaha
Esse texto está ótimo, espero ler logo a continuação ;D
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