A bela viúva negra passeava por sua teia. Tecendo suas bordas, ela bailava ao som dos predadores noturnos que estavam acordando para mais um anoitecer sangrento, feito para o caçador. Mas desta vez a bela viúva negra que tecia seus fios, não os tecia por maldade, não os tecia pelo cheiro da morte, não os tecia por luxuria. Ela apenas tecia-os porque deveria, ela não tinha mais vontade, mas continuava a tecer.
Suas lembranças vieram naquela noite com sabor de nostalgia e arrependimento. O amor e o calor de seus amantes, belos e cegos por sua beleza, a doce traição, o desespero de cada vitima, seus olhares, o veneno e toda a sua natureza destruidora. Ela lamentava sua solidão.
Seu corpo estava frio, suas palavras não eram ouvidas, seus pensamentos não tinham muito valor. E então ela saiu de sua teia, e caminhou ao encontro dos predadores e da lua naquela noite clara. Ela viu outros solitários. A velha e astuta raposa que outrora exibia seus pelos dourados hoje estava senil e só, o lobo que outrora foi Alfa hoje se cobre com sarnas, porém a coruja sempre só não se surpreendia. Ao parar sob sua arvore a coruja lhe disse que agora ela sabia seu futuro e depois voou para se encontrar com outra amiga solitária, a bela aranha resolveu andar. Andando pela floresta a viúva quis chorar.
Foi quando um macaco disse para fugir, ele havia visto um caçador. A viúva sem hesitar, seguiu o rastro, até encontrar uma fogueira e um jovem solitário. Ele limpava uma espingarda. A bela aranha esgueirou-se por trás das arvores e observou, como uma velha predadora, aquele belo rapaz.
Seus dentes se serraram, seus pelos arrepiaram, se coração bateu. Daquela distancia, como muitos anteriormente, ela se apaixonou. E sem ação ela esperou seus olhares se cruzarem. O rapaz levantou-se com um susto ao observar dois olhos brilharem na escuridão da floresta e a recepcionou apontando sua espingarda. A viúva não falou nada, apenas deu um passo para mais perto da luz. O jovem ao se deparar com a bela mulher, abaixou a arma mas com medo hesitou em levanta-la novamente.
Lentamente eles se acostumaram com a presença um do outro, trocando olhares e sinais. Ela chegava mais perto a cada respiração, até que seus corpos se tocaram. Os apaixonados rolaram sob as arvores como se fossem mil noites, seus corpos insaciáveis atravessaram as horas como furacões, até que ela destilou seu veneno.
Havia chegado a hora, a hora que diria seu futuro. A viúva hesitou novamente e com seus penetrantes olhos negros encarou os suaves olhos azuis do rapaz, seu salvador. E com a boca cheia do mais letal veneno, cujo ela fez especialmente para aquela noite, ela beijou sua testa e deitou em seu colo e engoliu todo o veneno. E eles adormeceram, ela acolhida no calor do peito dele, e ele com a mão entrelaçada nos cabelos dela.
O rapaz mal entendeu quando acordou pela manhã, deitado e nu, sob a copa de uma grande arvore, com uma aranha morta sobre seu peito.