Ele andava pela rua. Passos lentos em um dia nublado e uma fina garoa de inverno. Uma rua de paralelepipedo muito grande. Ele estava no inicio dela, a uns 10 passos de sua entrada, e não olhava para frente. Se ele olhasse ele veria a linha do horizonte nela, de tão grande que ela era, ele poderia cogitar o seu fim, mas não tinha contato visual com ele.
O cheiro da terra molhada começava a subir enquanto ele andava casualmente por aquela rua que ele não sabia qual era. Nem ao menos olhava para frente, não sentia segurança de faze-lo, apenas olhava para o meio fio e o usava como guia, também olhava para a forma geometrica dos paralelepipedos simetricamente colocados e medidos.
No inicio ele pensou em andar na ponta dos pés para não pisar nas listras, como crianças fazem. Mas ele se achou velho demais para fazer aquela bobagem e a chuva aumentou um pouco, se tornou um chuvisco, com pingos mais pesados e espaçados, mas não molhava mais que uma garoa. Ao se dar conta, ele olhou para o céu. Estava bem nublado e parecia estar cada vez mais carregado, e ele pensou "acho quem vem aí um temporal". Sem olhar o que vinha a diante, ele voltou seus olhos para baixo e continuou seguindo o meio fio.
Mais uma vez ele pensou em brincar com o andar, hesitou duas vezes em andar sobre o meio fio. Na terceira vez ele subiu. Tentou se equilibar, deu alguns passos e logo a diante voltou a andar sobre o chão geometricamente perfeito daquela rua. Ele nem sequer se perguntava o que faria depois de chegar ao final dela, mas queria chegar lá, sabia que era seu objetivo maior e apenas andou novamente.
Sem mais nenhum aviso, a chuva começou a cair de verdade. Os pingos foram engrossando e logo se transformaram em um temporal. Sem hesitar dessa vez, ele olhou a sua volta procurando uma marquise, mas só via muros bem lisos a sua direita, e a sua esqueda havia um descampado enorme, cujo não se via fim. Ele ja havia andado muito para voltar, ja estaria ensopado se voltasse ao inicio da rua. Ele resolveu olhar pela primeira vez para frente.
Subiu lentamente a sau face, seus olhos acompanhavam a rua até o horizonte. Nenhuma marquise e nem sinal da rua terminar. Ele continuou andando, ja não sabia mais o que fazer quando a chuva parou. Ele andou novamente junto ao meio fio, onde haviam poças d'agua e se assustou. Ele se lembrou de como havia entrado naquela rua, apenas um menino, e o reflexo mostrava um homem barbudo e alto. Sentiu medo, mas ainda tinha vontade de andar na estrada sem fim.
Um comentário:
E vivemos todos na nossa rua de paralelepipedos infinita, no final das contas. Ao olhar pra frente, só o infinito. Estamos sempre longe demais do início pra voltar, e quanto mais andamos, mais velhos e cansados vamos ficando.
Em alguns períodos chove, e não temos onde nos abrigar. Precisamos continuar a caminhada, até o sol voltar.
Adorei esse texto, muito mesmo. *-*
Continue postando e me fazendo feliz! haha..Regularidade nas suas postagens ia tornar minha vida muito mais linda! hehe...e se não for pedir muito, VOLTA LOGO COM A DIAS NOTURNOS! ;D
bjooos, minha escritora favorita ;D
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