quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Passarinheiro

Já era senhor e a idade não dava trégua, desde quando era garoto ele sentia-se cansado de ser velho. Vivia enfurnado com seus artefatos e pássaros, seus troféus, em um quarto solitário nos fundos da casa de sua filha.
Fazia tempo que o velho só fazia isso, talvez tenha sido a única coisa que ele tenha gostado de fazer em toda sua vida, mas desde que se aposentou, e parou de trabalhar naquela serralheria, ele passou a desenvolver mais e mais armadilhas e construir mais e mais gaiolas. Era notavel a felicidade dele quando capturava um passarinho novo, mesmo que fosse apenas um pardal.
Ninguém que ele conhecia jamais o compreendeu por ser tão fanático por pássaros. Talvez não entendessem que na verdade ele gostava era da privação da liberdade dos outros. Mas como ele jamais foi corajoso suficiente para aprisionar um ser maior que poucos centimentros, acabou se tornando um ditador de passarinhos.
Imperador Passarinheiro gostava de impor comando, gostava de privações, mas jamais machucou um pássaro.
Um dia ele morreu, demorou um tempo para notarem sua ausência já que sua filha passou uns dias fora em uma viagem de negócios. Os pássaros morreram de fome sem seu líder solitário, lamentaram a morte do governante estranho e deixaram de existir com ele, assim, quase pra sempre.

Um comentário:

Danda disse...

Deos, adorei esse texto!

Sabe que isso me transportou pra casa de uma pessoa que conheci, e que durante uma época tinha um monte de gaiolas de passarinhos nas paredes?

Pássaros em gaiolas me deixam melancólica, porque sempre imagino que algo assim possa acontecer. Não são todos os donos de passarinhos ditadores, com uma necessidade bizarra de ter algo sob seus domínios, dependendo eternamente?

tenso isso x_x
adorei!

=*